30 de dezembro de 2009

The Ritual of Death, de Fauzi Mansur (Brasil, 1991)

O primeiro choque é o da ignorância: eu não tinha idéia que Mansur tinha feito filmes de horror falados em inglês na virada dos 80 pros 90, voltados pro público americano de vídeo/DVD. Como se fosse pouco, este aqui pega uma mitologia egípcia misturada com pajelanças indígenas, joga no meio disso tudo um grupo de teatro encenando a partir de um livro amaldiçoado... em suma, you get the picture. Muitas vezes a gente não sabe se tá rindo com o filme ou do filme, principalmente por conta do seu elenco absolutamente deplorável (com direito a Lilian Ramos - sim, aquela do Carnaval do Itamar - na que talvez seja a pior performance que eu já vi na vida), mas também tem momentos bem perturbadores no abraço frontal ao gore, incluindo aí alguns efeitos de maquiagem bem impressionantes ainda hoje. Dizer que é um bom filme, sob qualquer conceito do termo, seria forçar a barra pacas, mas é sem dúvida um filme que se vê do começo ao fim com os olhos bem abertos, incapaz de se saber (até) onde ele vai a seguir.
(visto na sala 1 do CCBB-RJ, dentro da mostra Horror no Cinema Brasileiro, projetado em DVD)

O Estripador de Mulheres, de Juan Bajon (Brasil, 1978)

Bizarra mistura de registros nesse filme que começa como um exploitation vários tons acima de qualquer naturalismo (Ewerton de Castro numa performance absolutamente despirocada), flerta com um quase terrir a partir de algumas situações bastante inesperadas (as vizinhas e a tartaruga, as confissões à polícia), e de repente adquire um tom crítico bem pesado sobre o papel da polícia (em plena ditadura, claro) e principalmente da exploração da mídia (onde o plano final é radical). Pena que Bajon, nesse seu primeiro longa (depois ruma pro lado mais pornô da Boca), não tem total controle disso tudo que vai sendo jogado no filme bem atabalhoadamente (personagens somem por um tempo grande, outros vêm a primeiro plano de repente por tempos longuíssimos) e, por mais que a projeção do filme que eu vi não sirva de balizamento (a cópia parecia saída de uma master VHS desenquadrada), sua tosqueira visual cria ruídos demais tanto pro lado exploitation quanto pro mais "sério".
(visto na sala 1 do CCBB-RJ, dentro da mostra Horror no Cinema Brasileiro, projetado em DVD)

Excitação, de Jean Garrett (Brasil, 1977)

Cá entre nós, é um título perfeito para estrear um blog novo. Fotografado pelo Carlão (que faz uma aparição hilária em um plano), coroteirizado pelo Ody Fraga, é um filme bem desigual, que dá algumas voltas a mais em torno de si mesmo do que tem fôlego pra aguentar, mas que também deixa algumas (várias) imagens perturbadoras com a gente - a maioria delas em torno de uma discussão bem barra pesada do peso opressivo da busca pelo sucesso e da tecnologização crescente (pô, o protagonista é um engenheiro de computação, em pleno 1977!). A escolha e o uso da locação, na casa isolada em São Vicente, é bem especial. Fora isso, não precisa dizer, em se tratando de quem e onde se trata, que o sexo é bem filmado pacas com algumas mulheres daquelas que só mesmo na Boca dos anos 70 (Zilda Mayo acima de tudo e de todas).
(visto na sala 1 do CCBB-RJ, dentro da mostra Horror no Cinema Brasileiro, projetado em Beta)

Por que Paragrafilme; pra que Paragrafilme?

Um blog novo? De novo? Os amigos certamente lembram que eu já tentei isso antes. Mas, quem não tentou? O fato é que os blogs nascem de impulsos, e eles podem se provar duradouros ou não com o tempo. Faz parte. O mais importante, como em muito na vida, é acreditar quando se começa que vai durar pra sempre, e ser sempre imprescindível. O depois, depois a gente vê.

Mas de fato este blog é um exato oposto do seu antepassado. Por que lá eu queria e prometia falar de tudo menos de filmes (e uma breve olhada por lá mostra que eu menti). Só que hoje em dia já existe o Facebook pra isso. E agora o que eu quero é realmente falar de filmes. Não de cinema, mas de filmes.

Na verdade, Paragrafilme é uma volta radical às origens. Quando eu comecei esse negócio com os filmes, eu tinha meus 13, 14 anos e fazia uma fichinha pra cada filme. Nela eu anotava os dados básicos do filme, e depois um comentário que não daria muito mais que um parágrafo. Com o tempo, o hábito morreu (embora as fichas continuem bem guardadas), e logo eu fui escrever mais e maior em outras paragens (tipo uma certa Contracampo, uma tal Cinética, etc e tais). No entanto, por mais prazer que elas me deram e dão, havia algo naquelas fichinhas que eu não mais encontrei, e que hoje descubro fazendo falta. O desejo aqui então é de retomar uma relação mais solta e cotidiana com os filmes. Daí, o blog. Pra suprir esta falta que sinto - hoje, pelo menos.

Mas por que um parágrafo por filme? Primeiro porque, assim como no blog anterior, a idéia aqui não é competir com nem atrapalhar minha produção na Cinética. Então, idéias mais longas ficarão sempre guardadas pra lá.

Mas o mais importante é que o parágrafo é uma entidade bem livre: pode durar uma linha, pode durar um romance inteiro; nada a ver portanto com o mundo twitter e seus 140 caracteres impondo um tamanho. O que o parágrafo impõe não é a uniformidade, mas sim um conceito. Ou como diria a Wikipedia:

Parágrafo é uma unidade auto-suficiente de um discurso, na escrita, que lida com um ponto de vista ou ideia particular. (...) Um parágrafo consiste tipicamente de uma ideia, pensamento ou ponto principal que o unifica, acompanhado por detalhes que o complementam.

Então, indo direto ao ponto, esta é a regra: cada filme visto, um parágrafo. Que foi como tudo começou. E talvez agora precise recomeçar.

Buckle up.