14 de janeiro de 2010

Não!!!

Este blog não morreu cedo de inanição. Eu que passei 2 semanas em merecidas férias longe do cinema e dos filmes (embora não das leituras sobre eles). Semana que vem a coisa volta ao (a)normal.

1 de janeiro de 2010

Entre Deus e o Pecado (Elmer Gantry), de Richard Brooks (EUA, 1960)

Assim que acabei de ver Elmer Gantry, fui dar uma pesquisada rápida e uma coincidência incrível se revelou: o livro de Sinclair Lewis foi escrito/lançado exatamente no mesmo ano (1927) que Oil!, de Upton Sinclair. E daí? O fato é que ao longo do filme de Brooks me veio à cabeça justamente There Will Be Blood, o filme de PTAnderson baseado no texto do Sinclair número 2 (e certamente a performance principal de Burt Lancaster aqui tem reflexos no que Daniel Day-Lewis fez), e depois disso descobrir esta simultaneidade não significa absolutamente nada, certamente, mas foi uma surpresa e tanto. Elmer Gantry é um filme hipnótico que consegue, pro meu gosto, dar o passo que o filme de PTA não conseguia: ousar uma enorme paródia/resumo de uma América prensada entre a hipocrisia e a ignorância das fés capitalista e religiosa, e ainda assim dar vida a seus personagens pra além de construções cinematográficas. Há uma tal vida nas pulsões (sexuais, inclusive, fortíssimas) e no desespero de todos os personagens, que vão levantando véus depois de véus de carências e calhordice, onde ao mesmo tempo em que não sobra pedra sobre pedra das instituições (não só a igreja leva porrada aqui, mas também a polícia, os políticos, a imprensa, etc), sai do meio daquilo tudo uma crença grande no ser humano apesar e principalmente nas suas falhas. Nesse sentido, é a relação de admiração mútua entre o jornalista Jim e o insano Elmer que dá o diapasão do filme: nenhum sentido de ingenuidade nem de calhordice natural, apenas o entendimento do jogo que cada um joga, que nada tem de puro ou bem intencionado per se. Um filme de tantas camadas e cenas de embasbacar, que faz realmente pensar que em 1960 Hollywood estava num outro lugar.
(visto no TCM)

Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski (Brasil, 2009)

O filme pintou em mais de uma lista de melhores do ano por aí, geralmente sob as platitudes de sempre do tipo "uma aula de história essencial", como se o cinema fosse pra ser substituto pedagógico de alguma coisa. Claro está porém que o mais interessante a se falar e diferenciar no filme é mesmo um tratamento bastante inusual do material sonoro e visual, ainda mais em se tratando de "tema sério"- mas sobre isso acho melhor indicar o texto do Rodrigo, que vai fundo nos pontos principais. Para além do que ele disse, porém, eu queria adicionar (ou reforçar) duas coisas que acho bem fortes no filme. Primeiro, a inteligência com que percebe que dar a voz aos dois lados não é tanto questão de justiça e sim de ser a melhor maneira de desnudar um pensamento tão estúpido que precisa ser lido de um papel (como é o caso do Brilhante Ultra, esta besta). Neste processo, o filme cria um ou dois efeitos puramente cinematográficos (pois de montagem e superposição de idéias via som/imagem ou cortes) que são das mais fortes acusações anti-ditadura que se viu nas telas (e muito mais eficazes que aquele batido clipe de imagens de resistência com musiquinha ufanista, francamente dispensável). Segundo, vale destacar que o filme é uma iniciativa absolutamente pessoal, como se vê pela ausência de qualquer logomarca no começo. Isso não é um elogio automático de nada, mas acho que é algo que precisa sim ser destacado como aspecto importante do filme. Que o Chaim Litewski (que não conheço nem nunca tinha ouvido falar) tenha levado um filme como este adiante do começo ao fim por sua conta (com o apoio firme dos Asbeg, Pedro e José Carlos) é uma coisa bem impressionante e significativa. Eu até acho que o filme tem muito de "importante aula de história" e servirá bem pra fins acadêmicos em DVDs por aí, mas vê-lo no cinema é bom por muita coisa que não seja isso.
(visto no Unibanco Arteplex Rio, sala 3, em projeção Rain)