1 de janeiro de 2010

Entre Deus e o Pecado (Elmer Gantry), de Richard Brooks (EUA, 1960)

Assim que acabei de ver Elmer Gantry, fui dar uma pesquisada rápida e uma coincidência incrível se revelou: o livro de Sinclair Lewis foi escrito/lançado exatamente no mesmo ano (1927) que Oil!, de Upton Sinclair. E daí? O fato é que ao longo do filme de Brooks me veio à cabeça justamente There Will Be Blood, o filme de PTAnderson baseado no texto do Sinclair número 2 (e certamente a performance principal de Burt Lancaster aqui tem reflexos no que Daniel Day-Lewis fez), e depois disso descobrir esta simultaneidade não significa absolutamente nada, certamente, mas foi uma surpresa e tanto. Elmer Gantry é um filme hipnótico que consegue, pro meu gosto, dar o passo que o filme de PTA não conseguia: ousar uma enorme paródia/resumo de uma América prensada entre a hipocrisia e a ignorância das fés capitalista e religiosa, e ainda assim dar vida a seus personagens pra além de construções cinematográficas. Há uma tal vida nas pulsões (sexuais, inclusive, fortíssimas) e no desespero de todos os personagens, que vão levantando véus depois de véus de carências e calhordice, onde ao mesmo tempo em que não sobra pedra sobre pedra das instituições (não só a igreja leva porrada aqui, mas também a polícia, os políticos, a imprensa, etc), sai do meio daquilo tudo uma crença grande no ser humano apesar e principalmente nas suas falhas. Nesse sentido, é a relação de admiração mútua entre o jornalista Jim e o insano Elmer que dá o diapasão do filme: nenhum sentido de ingenuidade nem de calhordice natural, apenas o entendimento do jogo que cada um joga, que nada tem de puro ou bem intencionado per se. Um filme de tantas camadas e cenas de embasbacar, que faz realmente pensar que em 1960 Hollywood estava num outro lugar.
(visto no TCM)

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