4 de abril de 2010

O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella (Argentina/Espanha, 2009) e Avatar, de James Cameron (EUA, 2009)

O problema da minha mania de deixar pra ver os filmes no cinema depois que as salas ficam um pouco mais vazias é justamente que chego tarde em várias das discussões, como é o caso aqui do filme argentino ganhador do Oscar e do fenômeno do ano passado. E, pior, quando ouço muitas opiniões radicais de um lado e outro (algo que aconteceu em ambos os casos aqui), tendo sempre a me ver no final nem tanto ao céu nem tanto à Terra, já que geralmente acabo achando que cada lado forçou a barra pra marcar suas posições, e pra isso precisou ignorar o que obviamente é um copo nem todo cheio nem todo vazio.

No caso do filme argentino, por um lado acho difícil não perceber as qualidades óbvias de um trabalho de ourivesaria de roteiro e, acima de tudo, de construção de personagens através do trabalho dos atores (principalmente os coadjuvantes). Campanella revela aí o seu olho de diretor de séries de TV americanas: uma capacidade grande de tornar cada ser que entra em cena minimamente cativante e de colocar as palavras exatas em suas bocas (dá pra notar o prazer da plateia em ouvir as falas e o jogo dos atores). Por outro lado, também me parece difícil acreditar que alguém não note o quanto não funciona a história de amor que Campanella quer porque quer construir como um espelho/projeção possível a partir do que acontece na parte político-policial do filme. A atriz está muito, muito mal (em oposição ao elenco masculino preciso), e em nenhum momento sentimos pelos dois como um casal nada além de uma distanciada simpatia. Eu acredito na força que existe na observação de Campanella do período da ditadura como um marcado antes de tudo pelo sentimento da impotência frente aos desígnios oficiais, e nisso a cena no elevador me parece disparado a mais forte do filme. Já quando Campanella quer fazer "arte" (como no tão falado plano-sequência no futebol, ou no desfecho surpresa à la Eastwood), no geral mete os pés pelas mãos. Se reforça pra mim sua imagem de um realizador mediano, um operário, que quando se foca nos personagens (O Filho da Noiva, principalmente) é muito mais forte do que quando se dá a querer ousar.

Já no caso de
Avatar, também senti a projeção do filme como uma verdadeira montanha-russa de coisas muito excitantes e outras francamente constrangedoras - e nem estou falando tanto aqui da questão da banalidade de construção narrativa ou dos personagens militares (que têm sua graça como caricatura), mas principalmente de algumas opções estéticas mesmo (acho quase todas as criaturas ou a floresta em si um tanto dsesagradáveis de se olhar, num sentido new age mesmo). Mas, principalmente, o filme me parece apoiado numa base bastante frágil ao propor o seu discurso anti-militarista baseado num desenvolvimento narrativo e estético que me parece obviamente glorificador do prazer estético pela violência e a destruição física do inimigo. Não tenho nada contra nenhuma das duas coisas a priori, mas tentar me vender as duas ao mesmo tempo, confesso, me deu alguns engulhos principalmente nas batalhas do desfecho da trama (que, além de tudo, parece um mash-up das coisas mais esquisitas, como Matrix, Retorno do Jedi, Senhor dos Anéis - pra ficarmos nos corelatos estéticos mais próximos). Por outro lado, tudo aquilo que dizia respeito ao ato em si de transformar-se num avatar e adentrar esse outro mundo me interessou bastante, assim como essa ideia que me parece fisicamente bastante presente no filme de ganhar movimento após a paralisia (assim como a de tomar o lugar de uma outra pessoa - no caso, o irmão morto). Curiosamente pra mim, então, o filme funcionou mais nos momentos mais íntimos, mais em primeira pessoa, em que víamos e sentíamos este homem vivendo num outro corpo, do que quase tudo de espetacular que Pandora, etc, traziam. Fora isso, eu preciso falar que minha experiência pessoal com o 3D é uma de maravilhamento por uns 15 minutos, e depois eu habito aquilo de um jeito muito parecido como um filme em 2D. Talvez por sentar sempre tão na frente no cinema, eu sempre tenha me sentido um pouco "dentro" de qualquer filme que eu veja, e confesso que não sinto uma diferença tão grande não. E, inclusive, me incomoda um pouco (nem fisicamente, não tive desconfortos ou enjôos/dores de cabeça) a coisa de ler a legenda, ver as profundidades, sentir os efeitos, etc. Coisas de nova tecnologia, estou certo.
(vistos no Arteplex RJ, respectivamente nas salas 1 e 4)

2 comentários:

Jordan Bruno disse...

"uma verdadeira montanha-russa" ...... vai ver foi por isso que Hurt Locker levou o oscar de melhor filme, mais simples ao abordar a equipe de especialistas .... sobre o Campanella, eu gosto do Clube da lua, mas realmente ele vai melhor quando deixar os personagens/atores carregarem o piano ... a cena do estádio de futebol me pareceu um lixo ...

denise disse...

quando vc usa a palavra "constrangedor" me da um frio na espinha. achei a palavra perfeita pra certas situacoes, entendo o q vc quer dizer, mas fico pensando q um diretor/produtor nao colocaria num filme algo q ele msm achasse constrangedor pra se auto-constrager, certo? qdo vc diz isso, vc diz de que maneira? comercial? apelativo? sem nocao artistica?

ps-estou ha 5 anos realizando um longa totalmente independente e sinto q se tivesse lancado ha 3 anos atras, talvez estivesse com cenas q hj me constrangeriam e o tempo soh tem melhorado a edicao...mas msm assim, ainda me sinto insegura qto ao publico. por isso a pergunta.