20 de julho de 2011

Aterrorizada (The Ward), de John Carpenter (EUA, 2011)


Curioso que hoje eu fui parar numa leitura desse texto aqui sobre o Eles Vivem, e ele me ajudou a pensar melhor sobre a opção do Carpenter de voltar a filmar depois de 10 anos com esse The Ward. Sim, porque em muitos sentidos, tudo aquilo que o Nicolas Saada aponta como central pro Carpenter no momento em que ele quebra com o regime que vinha filmando para fazer uma elegia a um certo filmar possível dentro do cinema B é o mesmo que podemos ver neste filme novo. Primeiro, pelo sentimento de huis clos que carrega boa parte do filme depois da introdução: The Ward é extremamente sucinto, com uma série determinada de personagens, numa mesma locação - o que empresta ao filme uma cara de "cinema barato" muito interessante, uma energia curiosamente concentrada e solta ao mesmo tempo. Depois que o filme, em última instância, volta a alguns temas muito caros ao Carpenter, a começar pela mesma questão de que o mundo que enxergamos não é confiável como tal, que há "algo podre no reino da Dinamarca" - e que esse algo podre, em última instância, está mesmo dentro de nós. De resto, ele usa com muita inteligência tanto alguns clichês cinematográficos típicos do subgênero do "filme de manicômio", como principalmente o seu elenco jovem feminino (cuja irrealidade já é óbvia desde o primeiro plano). Aliás, isso pode ser um tema de discussão bastante equivocado sobre o filme: o fato de seu roteiro ser, afinal, bastante óbvio. No entanto, não me parece ser nem um pouco uma questão pro Carpenter os motivos pro que acontece, mas sim o fato daquilo tudo acontecer (algo que já está naqueles créditos de abertura sinistros sobre imagens manicomiais). E a "surpresa final", cá entre nós, é muito menos uma surpresa (ou um gimmick) do que a constatação de que a sanidade é sempre um conceito volátil a beça. É, em suma, um filme "lean and mean", que ninguém vai confundir com uma obra-prima, mas que é bom a beça de qualquer jeito.
(visto na sala 1 da Caixa Cultural, em projeção digital, na abertura do 2º RioFan)

Um comentário:

Eduardo Valente disse...

aliás, os créditos de abertura que eu citei podem ser vistos aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=LEHcKFdplnM&feature=player_embedded