25 de junho de 2011

Vendredi Soir, de Claire Denis (França, 2002)


Voltar a um filme nove anos depois da primeira vez, com tudo que o filme mudou, você mudou, o cinema mudou e a cineasta mudou, é sempre um prazer. Relembra aquela frase que o Carlão gostava de repetir ("o importante é rever") - por mais que ela seja, no fundo, impossível de atingir de fato como norma. Nessa revisão, eu vi com muita força 3 coisas sobre Vendredi Soir. A primeira, que eu já tratei aqui embaixo ao falar do Vers Mathilde, é como o filme me parece autoconsciente, à beira da autoparódia, radicalizando tudo que Claire Denis e Agnès Godard já tinham descoberto de que eram capazes no Trouble Every Day. Só que isso me leva de fato ao segundo ponto, que talvez tenha me escapado (ou eu não lembrava) na força que tem no filme, que é o humor. Claire Denis tem um um humor muito particular, quase não discutido (e muitas vezes não visto), e neste filme ele está presente em muitos e muitos momentos. De fato, como comentei na saída com o Juliano, me parece que em Vendredi Soir Denis e Godard estão "de brincadeira" - em muitos sentidos. Existe uma infantilidade no filme que é deliciosa, e que só se multiplica quando pensamos nos olhos tão incrivelmente inocentes/sapecas que tem Valerie Lemercier. Só que existe o terceiro ponto, que contrabalança os dois, que é a forma como elas vão fundo em conseguir atingir no filme uma certa expressão do olhar feminino pro sexo (ou pelo menos como eu consigo entendê-lo, o que, em não sendo mulher, é um tanto parcial e experimental - mas vá lá que seja). De verdade, eu lembro de poucos filmes que tenham se irmanado tanto a uma perspectiva frontal e sensorial do fenômeno do tesão feminino como esse - e que isso venha à tona num filme que eu chamo de "brincadeira" me parece tanto mais saudável. Por tudo isso junto, confesso que me veio à mente seguidas vezes ao longo do filme que talvez ele seja uma mistura inaudita entre O Mágico de Oz e Emmanuelle - imagem que eu honestamente não posso nem querer tentar explicar, porque faria automaticamente com que perdesse boa parte de sua graça.
(visto - pela segunda vez - na sala 1 da Caixa Cultural-RJ, em 35mm, dentro da mostra Claire Denis: Um Olhar em Deslocamento)

Um comentário:

Anônimo disse...

Nao consigo achar esse filme pra assistir, alguma indicação? Grata.