10 de fevereiro de 2010

O Homem que Engarrafava Nuvens, de Lirio Ferreira (Brasil, 2008)

É difícil falar deste filme sem simplesmente repetir boa parte do que diz o Francis no texto dele na Cinética, porque parece bem claro que o grosso dos problemas do filme está resumido ali. Eu só levaria mais adiante a questão de que esta fratura entre vários diferentes filmes que existem dentro do mesmo filme aqui é acentuada por duas pulsões que vêm de fontes diferentes. De um lado, a gente vê o mesmo Lírio Ferreira que co-dirigiu Cartola, e que busca sempre que possível ousar esteticamente dentro do formato tão careta a priori do documentário biográfico. Aqui isso fica especialmente claro nas várias inserções de cenas raras da história do cinema brasileiro (trailers, cinejornais, trechos) que atendem principalmente a um desejo dele de mostrá-los, muito mais do que do filme de prescindir deles (e nada contra, são momentos fortes pra quem gosta de cinema nacional). Do outro lado, tem todo o discurso afetivo-pessoal da produtora e filha do biografado, Denise Dummont, que assume um esquisito papel duplo mal resolvido de objeto do filme (dá entrevista inclusive ao lado da mãe), e sujeito do mesmo (os entrevistados se dirigem sempre a ela, deixando ver quem capitaneava os processos de conversa do filme). Me parece claro que toda fratura exposta no filme vem destes dois desejos firmes e fortes que em nenhum momento quiserem se curvar ao outro, e que com isso acumulam belos momentos, que no entanto fluem com a graça de um elefante por uma montagem que não chega a conseguir fazer deles um discurso só. O filme tem charme e considerável emoção, mas é episódico, cansativo, digressivo, um tanto perdido. Em vários sentidos, prefiro isso ao documentário certinho e sem alma, mas tb seria falso dizer que se trata de um filme que dá conta de suas missões auto-impostas.
(visto no Arteplex Rio, sala 5)

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