25 de junho de 2011

L'Intrus, de Claire Denis (França, 2004)


Pode até ser que, tendo em vista as ideias que me vieram ontem nos filmes da mostra, eu tenha revisto pela quarta vez este filme querendo encontrar nele algo que eu projetava - mas, fazer o quê, assim é a vida de ver e rever filmes em momentos distintos. Só que o fato é que L'Intrus parece mesmo a resposta perfeita às inquietações que eu mencionava abaixo a partir de Vers Mathilde e Vendredi Soir. L'Intrus é um filme que tem esse peso de redescoberta do cinema, de desafiar a si mesma, e se jogar sem rede de segurança. É um filme que respira essa liberdade completa, essa falta de compromisso até mesmo com o seu espectador, de poder colocar em risco a cada corte, a cada plano, a relação que se estabelece (ou não) entre a tela e quem assiste. O fato de que o filme hoje me pareça um tanto mais cristalino (basicamente um estudo sobre a ideia de herança, sobre o que deixamos e decidimos deixar no mundo - e nisso o uso das imagens de um filme de 40 anos com o mesmo ator é cada vez mais estupefante) não retira o tanto dele que permanecerá sempre misterioso, pois emana dos acordes ao mesmo tempo simples e complexos da trilha de Staples, dos rostos de Subor, Dalle, Collin, Golubeva, Descas (na tela por mais ou menos um minuto), da forma como as figuras desenhadas por Denis e Godard conseguem ser ao mesmo tempo tão etéreas e possuírem tamanho peso. Um filme musical, e um filme animal. Um filme ao qual se volta como se reencontra um velho amigo: não há como cansar dele, pois ele sempre parece familiar e cheio de novidades.
(mais uma boa leitura: http://www.sensesofcinema.com/2005/35/claire_denis_interview/)
(visto - pela quarta vez, todas no cinema - na sala 1 da Caixa Cultural-RJ, em 35mm, na mostra Claire Denis: Um Olhar em Deslocamento)

Um comentário:

Eduardo Valente disse...

outro link bom:
http://www.youtube.com/watch?v=AonoRPlkjZo