10 de fevereiro de 2010

Trash Humpers, de Harmony Korine (EUA, 2009)

Não é por mera coincidência que pensamos no John Waters dos anos 70 (o de Desperate Living e Female Trouble principalmente) vendo este mais recente filme de Korine. Existe antes de tudo no filme um desejo de desagradar, de ser grotesco e grosseiro, de eventualmente forçar o espectador a desviar o olho da tela. Mas existe ainda (e é aí que se aproximam) o desejo ainda mais forte de propor com esta sociedade paralela desregrada e doentia um espelho que reflita sobre a falta de nexo da sociedade estruturada e "bem resolvida". O filme de Korine tem um quê de desejo de choque gratuito (a maneira como a violência entra no filme, por exemplo, é bem boba), um outro tanto de auto-reflexividade que o simplifica demais (o discurso na ponte, principalmente, mas tb as brincadeirinhas visuais com o VHS), mas nada disso tira a força presente no que ele tem de melhor, que são as cenas mais desconectadas de qualquer lógica, na figura mesmo destes quatro seres com seus rostos bizarramente deformados e claramente mascarados, nas suas vozes, expressões e canções distorcidas. Sem dúvida Korine se refastela um pouco demais no seu status de enfant terrible auto-criado, mas sem dúvida também é preciso dizer que ele faz aqui um filme como nenhum outro no cinema mundial atual.
(visto no cinema 1 do CCBB-RJ, projeção em DVD, dentro da mostra Zona Livre)

Um comentário:

Márcia Schmidt disse...

Oi Duda,
Totalmente desnecessário esse discurso na ponte (se bem que aí quem fala não são os mascarados e esse personagem é morto logo depois) Pior é a cena autoexplicativa no carro. Pra que?? Estragou bastante a coisa...achei uma bobagem, enfim.
Abraço,
Márcia Schmidt